plural

PLURAL: os textos de Suelen Aires Gonçalves e Silvana Maldaner




  • Quem teme a frase "Vidas negras importam!"?
    Suelen Aires Gonçalves
    Socióloga e professora universitária

    style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">

    Certamente, é mais fácil defender a ideia rasa de "vitimismo" das pessoas negras e dos movimentos negros organizados do que procurar compreender a fundo as bases estruturais e institucionais do racismo no Brasil e aqui mesmo, em Santa Maria, como vêm fazendo importantes organizações negras, movimentos sociais e pesquisadores negros e negras e brancos aliados antirracistas há muitos anos.

    Saberiam os adeptos do "vitimismo negro", como defendeu, recentemente, o colunista Rogerio Koff neste jornal, que nossa cidade não só comportou histórias de escravização de inúmeras pessoas negras, desde a sua fundação, enquanto estância do Padre Ambrozio?

    Saberiam que a escravização de suas famílias perdurou aqui até os últimos dias da Abolição? E que, mesmo no pós-Abolição, pessoas negras tiveram que acessar mecanismos judiciais para poder reaver seus filhos e filhas, que seguiam como trabalhadores nas casas de ilustres santa-marienses, pessoas as quais muitos desconhecem seus nomes e que não são homenageadas em nomes de ruas e monumentos na cidade, diferentemente das elites senhoriais, cujos descendentes até hoje ocupam cargos de poder na cidade e ocultam em suas biografias a escravização promovida por seus ancestrais.

    RESISTÊNCIA

    Por certo, junto à escravização e a violência sofrida, a gente negra deste chão sempre resistiu e constituiu formas diversas de resistências, negociações e lutas por liberdades, direitos e vidas dignas. Não à toa, a cidade foi palco de mais de 30 organizações associativas negras nos séculos 19 e 20. Organizados criaram espaços diversos, porque muitos outros lugares ainda lhes eram negados nesta cidade e país. Para se ter ideia, em Santa Maria, constituiu-se pelas mãos de ex-escravizados e seus descendentes uma Irmandade religiosa que queria construir um hospital, uma escola (a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário), Clubes Sociais Negros diversos, uma Sociedade Política (Centro Etiópico Monteiro Lopes), em apoio à diplomação parlamentar do deputado negro Monteiro Lopes, que, em 1909, ainda era impedido de assumir o cargo, além de blocos carnavalescos e da Imprensa Negra.

    DIGNIDADE

    Essas histórias de resistências e lutas jamais comportaram a equivocada ideia de "vitimismo" que alguns querem imputar às comunidades negras. Pelo contrário, foram as pessoas negras deste Brasil e seus rincões que lutaram e seguem lutando para serem vistos com dignidade, humanidade, intelectualidade, beleza e cultura. No passado e no presente, sempre houve/há aqueles que depreciam as iniciativas negras por direitos. Não à toa a imprensa negra aqui emergiu em 1919, o Jornal Rebate, a fim de "combater estultos preconceitos de raça", preconceitos que até hoje teimam em se fazer nas vozes dos donos do poder, que ainda ecoam nos jornais hegemônicos. 

    A pergunta que fica éa quem incomoda desvelar essas histórias de violência contra a população negra e suas resistências? A quem incomoda a frase "vidas negras importam!"?

    Salvem os Pais 
     

    Silvana Maldaner
    Editora de revista

    style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">Estamos na semana comemorativa ao Dia dos Pais. Uma data importante a ser comemorada. Um reconhecimento e valorização daquele que deu a vida, o nome, o exemplo, a continuidade, o sangue, o DNA, o carma. Parabenizo de coração todos os homens que são pais na plenitude. Que descobriram o prazer em compartilhar conhecimentos, aventuras e sonhos com seus filhos. Afinal quando nasce um filho, nasce também um pai. Sem manual de instrução. O guia é o amor, a intuição, a perseverança, a vontade de fazer o melhor, e os costumes que aprendeu em casa. Parabenizo os pais que honram o seu nome.

    Temos vários modelos de pai. Tem o pai que sustenta, o pai que educa, o pai que reclama, o pai que parou no tempo. O pai que é pai e mãe também. E tem o pai ausente.

    Segundo os últimos dados levantados pelo IBGE:

    • Mais de 20 milhões de mulheres são mães solteiras no Brasil.
    • Mais de 5,5 milhões de crianças não tem o nome do pai na certidão de nascimento
    • Mais de 40% das famílias são chefiadas por mulheres.

    E ainda não está contabilizada a figura do pai que só paga pensão, ou aquele acha que seu único papel é pagar as contas. Ainda justificam que se matam trabalhando para dar tudo aos filhos. Dar comida, escola, vestuário, presentes caros, não compensa a falta de amor, atenção, tempo, exemplo, diálogos longos, conversas abertas, programas familiares.

    Infelizmente, em pleno século 21 presenciamos em todas as classes sociais o abandono afetivo, o desprezo e a violência familiar.

    Talvez, seja o reflexo de relacionamentos desastrosos. Da banalização da família, e do estímulo constante do sexo sem compromisso, principalmente entre adolescentes que ainda não possuem maturidade e trabalho para seu próprio sustento. A consequência disto, é a proliferação da violência, do uso das drogas nas ruas, da desistência escolar e principalmente aumento da pobreza.

    DO AMOR

    Também presenciamos famílias afortunadas em que o dinheiro substitui qualquer tipo de afeto. Praticamente tudo acontece na base da chantagem, da troca, do comércio e no pagamento de terapia com psicólogos e psiquiatras que tentam tratar as carências e frustrações sofridas e vividas no ambiente familiar.

    Acho muito triste, apesar de ver famílias valorosas se ajudando. Avós, tios e até vizinhos que assumem o papel dos pais. Mães que são verdadeiras heroínas que conseguem trabalhar o dia todo, muitas vezes em 2 ou 3 empregos para sustentar os filhos sozinhas.

    O amor consegue curar tudo. Suprir todas as dificuldades. Vencer barreiras. Superar limitações. E a falta dele consegue arruinar tudo.

    Enquanto houver estímulo para uma desconstrução do amor, neste país do carnaval, uma infinidade de crianças continuará sendo largada no mundo como um produto do acaso, do azar ou dos infortúnios da vida.

    O pai, quando descobrir um novo amor, não precisa abandonar os filhos, frutos de um amor anterior. Negar os filhos é negar a própria existência.

    Pelo amor de Deus, salvem os pais!


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